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Resenha: The Giver (O doador de Memórias) - Filme

29 setembro 2014

Duração: 97 minutos
Direção: Phillip Noyce
Estreia Brasil: 11 de Setembro de 2014

Doador de Memórias é dirigido por Philip Noyce e conta a história do jovem Jonas, que vive em uma sociedade futurista e distópica que apagou as memórias de seu povo, transferindo a responsabilidade de manter a lembrança do passado a uma única pessoa, o Receptor. Jonas é selecionado para esse serviço e é treinado pelo doador.

"You will be faced, now, with pain of a magnitude that none of us here can comprehend because it is beyond our experience. The Receiver himself was not able to describe it, only to remind us that you would be faced with it, that you would need immense courage." Chapter 8, pg. 63


O doador de memórias é um filme simples. Apesar da classificação futurista, ele não é cheio de efeitos mirabolantes e exuberantes. A fotografia em preto e branco nas primeiras cenas, nos mostra como as coisas são e como os cidadãos enxergavam tudo a sua volta. Jonas (Brenton Thwaites), é uma garoto doce e muito prestativo, que busca sempre fazer o melhor e tentar enxergar a diante, enxergar o futuro. Quando eles passam pelo ritual de ‘’amadurecimento’’, ele não é escolhido para funções normais, como seus amigos Fiona (Odeya Rush) e Asher (Cameron Monaghan). Desde então, percebemos que Jonas é diferente e por isso ele é selecionado como o novo receptor de memórias.
Sendo treinado pelo doador (Jeff Bridges), Jonas começa a descobrir a dádiva de conhecer cores que jamais viu, momentos inesquecíveis e únicos. Jonas começa a enxergar o mundo como ele é, sem as ‘’cortinas’’ que o conselho de anciãos impregnou em seus cidadãos. Um momento que eu particularmente achei muito bonito, é quando Jonas enxerga as cores do cabelo da Fiona e quando vê a cor vermelha na maça, diz ‘’é a cor do cabelo dela’’. As sequências do descobrimento das memórias é muito intensa e boa. A trilha sonora é tão envolvente quanto às cenas e diálogos, que não são maçantes e de linguagem erudita.

Não li o livro, mas consegui perceber a riqueza de detalhes, que por muitos deve ter passado despercebido. Detalhes estes, que fizeram a diferença na trama.
O doador de memórias nos mostra, como a ignorância de não saber como as coisas funcionam, como as coisas de fatos são, se encaixa perfeitamente na nossa realidade, seja na política, na vida amorosa, nos relacionamentos em geral. O conselho achava que tirando as memórias e o poder do saber de seus cidadãos, eles iriam protegê-los e civiliza-los, diminuindo a desigualdade, o preconceito, a inveja e a intolerância. Coisas muito presentes na nossa sociedade. Até que ponto não ‘’enxergar’’ é sinal de sabedoria? Eu acredito muito que saber sobre as coisas que acontecem no mundo, tanto as boas, quanto as ruins e permitir sentir todas as sensações, desde a mais incrível até a mais depressiva, é o que nos torna humanos. O dom de saber, sim é um dom, é o que nos caracteriza como únicos, é o que nos diferencia um dos outros.

''But when he looked out across the crowd, the sea of faces, the thing happened again. The thing that had happened with the apple. They changed. He blinked, and it was gone. His shoulder straightened slightly. Briefly he felt a tiny sliver of sureness for the first time." Chapter 8, pg. 64

Em um contexto mais social, O doador de memórias remete ao socialismo na sua forma mais utópica, onde as pessoas compartilham as coisas, não há desigualdade entre gêneros e classes, as pessoas são unidas em prol da partilha igualitária a todos. Podemos enxergar muito claramente a linha tênue entre os sistemas nesse filme. E se pararmos para refletir sobre ele, é sobre isso que se trata. 



Reticências.

25 setembro 2014

Eu estou bem cansada de algumas coisas, mesmo. Cansada de escutar de pessoas que nunca se deram ao trabalho (e seria um trabalho imenso, eu sei) de me conhecer, e me rotulam de "fria", ou se queixam que eu sou fechada, que me isolo... Eu não sou fria, de forma nenhuma. Mas se eu abrisse o meu coração, sufocaria muitos com a minha intensidade. Eu sinto tudo demais, mas eu nunca achei que devesse abrir isso para todos, menos ainda para quem demonstra mais interesse em julgar superficialmente, do que em compreender os meus motivos. E sabe, não acho que sempre temos de saber os motivos alheios, mas seria bom que todos lembrássemos que todos são como são, por razões próprias. Eu confesso que de uns tempos para cá, dificilmente me apego a alguém. Eu até sinto carinho, gosto, cuido, mas não com o apego doentio que eu ainda tenho, por exemplo, a coisas e pessoas que conheci em outras épocas. Muitas das que já nem devem mais lembrar que eu existo. O meu apego não impediu que elas fossem embora ou que mudassem, e eu também não pediria que elas ficassem, porque jamais me interessou prender ninguém. Quer ir? Vá. É justo.
Mas o apego me deixou saudade e tristeza, nostalgia malvada. E agora eu me policio mesmo, não quero me apegar e talvez isso esteja funcionando bem. Mas não é frieza, é sentimento demais, e medo por isso. Nada mais costuma me prender, e se torna até fácil, diante da quantidade de pessoas que se aproxima, que quer saber dos seus segredos, mas não tem o menor interesse real em quem você é. Gente que chega efusiva, e em 5 minutos te ignora. Eu sempre achei que o problema fosse comigo. Talvez seja. Mas também é com quem espera que tudo seja simples e comum, tudo que, definitivamente, eu não sou. Brinco, rio, falo bobagem, mas me sinto frustrada porque na essência, sou mais que isso, mas afasta as pessoas que têm preguiça de conversar além de bobagens. Percebi desde muito cedo, que custa caro se exercer como é, se assumir sem fazer tipo, ainda mais se em nada condiz com o que a maioria é. Eu escolhi pagar o preço: a solidão. Mas eu me acostumei, descobri como eu gosto e preciso ficar sozinha na maior parte do tempo, e quando eu sumo, eu fujo de tudo, e fico só comigo, e com o meu mundo, os sonhos, as ideias, as músicas... Fico comigo, e fico plena. Talvez ninguém esperasse por isso.
Então, é isso: não me apego fácil, não fico de grude, não sufoco ou deixo que criem expectativas quanto a mim, nem faço ou quero promessas. Mantenho-me longe para protegê-las, até. Também não espero que se apeguem a mim. Não demonstro quase nada, e ainda sinto demais o que ninguém precisa saber. Não crio muitos laços, há tempos. Porque se eu quiser ir embora como todos vão, eu também vou; sem culpas, sem traumas, sem dramas. O que eu tenho pra levar, está comigo por dentro. Possui umas coisas que eu não consigo mudar em mim. Eu me preocupo demasiadamente. Com o que aconteceu, o que vai acontecer, o que ainda nem sei se vai acontecer. Com os meus problemas, os problemas das pessoas que eu quero bem, os problemas de semi-desconhecidos que me pedem algum auxílio ou desabafam comigo, e com os problemas de pessoas que nem conheço, mas sei que existem aos milhões pelo mundo: doentes, desabrigadas, depressivas, tristes, sem lar, ou sabe-se lá mais o quê, passando fome, enquanto eu tenho uma mesa farta em casa. Parece exagero, mas nunca consegui mudar isso em mim, essa ansiedade doentia por ajudar todo mundo, e que me frustra muito quando não sei o que fazer, ou nada posso fazer. Sou paranoica. Às vezes quando me sento para comer, penso tanto nas pessoas que podem estar com fome naquele momento, que mal consigo engolir meu alimento;
Não durmo o quanto deveria. Tudo bem que não se trata de um hábito ruim, e sim de uma insônia crônica que eu poderia solucionar ou amenizar se aderisse ao uso de medicamentos fortes que eu me recuso quase sempre. O excesso de sono me consome em alguns momentos, mas alguma coisa me impede dormir. Portanto, faz parte dessa listinha. Minha cobrança comigo, com tudo que faço, é excessiva. Eu tenho trabalhado esse meu lado, preciso me perdoar mais e me deixar falhar; Meu sentimentalismo. Tudo mexe absurdamente comigo, tenho uma sensibilidade acima da média. Não me bastava apenas me colocar no lugar de quem sofre, em alguns casos, eu canalizo isso, fico fisicamente doente, como se minha energia baixasse por conta do sofrimento de quem me rodeia; Minha quase aversão a me alimentar. Ou seria uma excessiva falta de apetite, acho. Eu gosto de determinados alimentos, mas eu tenho certos rituais para comê-los (um excesso paralelo que nem sei como denominar, rs). Porém, na maior parte do tempo, nada me apetece, e eu simplesmente esqueço de me alimentar. Tenho colocado despertador para lembrar de cada refeição, para que meus pais fiquem mais tranquilos, mas como sem vontade; Excesso de tempo que passo sozinha. Talvez eu devesse me relacionar mais, mas eu cansei de deixar as pessoas se aproximarem e em seguida ter de justificar quem eu sou, minhas atitudes, porque para a maioria, se você age diferente, deve ter al;guma explicação, como se fosse pecado e tivesse de se redimir com elas; Excesso de TOC's, desde não pisar em rachaduras, olhar 3 vezes debaixo da cama, tocar objetos com a mão direita, e mesmo escovar os dentes diversas vezes, etc. Excesso de pessoas tentando me mudar, me controlar, me sufocando de alguma maneira Excesso de devaneios, sonhos. Raramente estou onde meus pés pisam; Acumulo culpas que racionalmente, sei que não me pertencem, mas por algum motivo, carrego nas costas.



[Resenha] O Código Élfico, Leonel Caldela

06 setembro 2014

Autor: Caldela, Leonel
Idioma: Português
Editora: Casa da Palavra
Assunto: Literatura Brasileira - Ficção Fantástica
Edição: 1
Ano de lançamento: 2013
Número de páginas: 576
Pontuação: ♥ ♥ ♥ ♥ ♥


Sinopse:Numa pequena cidade chamada Santo Ossário, vive Nicole, uma jovem vítima das mais improváveis lendas urbanas, com um passado misterioso, envolvendo assassinatos e rituais a uma deusa oculta. Em Arcádia, um mundo habitados por Elfos, vive Astarte, que diariamente, treina arquearia e disciplina élfica, até o dia em que descobre a que é destinado - escravizar os humanos a mando da deusa rainha, sua mãe. 


Sou apaixonada por elfos. Quando fiquei sabendo do lançamento desse livro, eu me empolguei de uma maneira absurda. Não é sempre que vemos livros com protagonistas élficos. A história me chamou a atenção e logo me convenceu a tê-lo (Foi um presente de aniversário da Babsi, linda, te amo). Comecei a lê-lo imediatamente e confesso que me decepcionei um pouco. Pouco, pouco, mas ainda assim me decepcionei. O prólogo é meio confuso e até não me situar no contexto e na atmosfera que o Caldela criou, foi difícil. Felizmente, tudo isso foi superado a partir do meio do livro.

A escrita de Caldela não é maçante, apesar de ser bem detalhista, muitas vezes até parecida com Tolkien e Paolini. Ele te faz entrar literalmente na história, te faz querer saber o que acontece cada vez mais. Eu particularmente, nunca imaginei que pudesse ler algo que misturasse toda a áurea rica e magnífica dos Elfos, com humanos de forma que se relacionem dessa maneira. Não é como Senhor dos Anéis, é diferente, é peculiar, é instigador. O que eu poderia esperar desse livro? Uma loucura do começo ao fim.
''(...) Era a última vez que o chamava de mestre, Astarte o havia igualado.O mentor não demonstrava qualquer satisfação; não demonstrava nada. Era pura serenidade, rosto sem expressão, sentado sobre os calcanhares na relva úmida de carvalho ... - Vossa Alteza é Astarte. Filho de Sua Majestade, Titânia, a Rainha da Beleza. Principe dos elfos. A Primeira Flecha de Arcádia.Prostrou-se em respeito. Astarte se ergueu.- Então agora poderei obter respostas Harallad? Conhecerei o palácio? Conhecerei minha mãe?- Em breve, Alteza, conhecerá seu verdadeiro destino.
Era só mais uma abdução. Assim como tantas outras, como talvez havia sido a perda de memória em plena universidade, meses antes. Era uma droga, mas quase rotina para a pessoa mais abduzida do mundo. A filha do Estripador das Hortências, a musa das lendas urbanas, garota da capa de tablóides sensacionalistas, celebrada nos principais sites sobre assassinatos ritualísticos.
Nicole Manzini, a Princesa das Conspirações.''
Personagens muito bem construídos, com personalidades cativantes. Felix é o meu personagem favorito e olhem só, ele não é um elfo, haha. Sei que muitas pessoas gostam dele também, ele traz aquele humor diferenciado na trama complexa dos protagonistas, ele é aquele alívio cômico que te faz quer tê-lo como amigo. 
Nicole é uma personagem muito interessante, gosto do jeito que ela descobre as coisas e do modo como lida com as "coisas estranhas'' que acontecem em sua cidade, Santo Ossário. Muitas vezes, há até uma identificação com a personagem e certos momentos reflexivos. 
Astarte é um príncipe elfo que é muito confuso e acaba tendo um romance com Nicole. A maneira como o relacionamento deles vai progredindo, você vai percebendo o quanto são diferentes, os dois mundos, o mundo humano e o mundo élfico, mas que o amor (time to the cliche), sempre vai vencer, sempre e não há barreiras que o impeça. Mas atenção, a história não se resume a romance, é apenas um detalhe.

A dica que eu dou é, leiam O Código Élfico. Além de ser uma literatura fantástica, é de um brasileiro. Acredito muito que precisamos dar mais valor aos nossos escritores, principalmente da área da ficção fantástica e cientifica. Vale muito a pena se aventurar nesse limbo que é Arcádia e Santo Ossário. Além da história passar uma lição muito importante: O quanto as pessoas prezam por poder e o quanto isso as prejudica.