Editora: Companhia de Letras
Autor: Erico Veríssimo
Páginas: 184
Sinopse: Clarissa vem de uma cidadezinha do interior para estudar na capital, Porto Alegre, onde mora na pensão de tia Eufrasina. Acompanhando o olhar da jovem alegre e otimista, Erico Verissimo narra o despertar da consciência do mundo em uma adolescente. Clarissa retrata o cotidiano numa pensão familiar na Porto Alegre da década de 30 e, ao mesmo tempo, as convulsões do Brasil e do mundo naquele períodoDecidi contar para vocês o meu último ganho: O término da leitura do livro Clarissa, do nosso querido Erico Verissimo. Visto que, eu me apaixonei pela obra e principalmente por Seu Amaro e Clarissa pode acontecer uma versão idealizada, portanto... Adociquem o coração de vocês e embarquem nesse romance.
Clarissa, uma menina entrando na adolescência, com a alma pura e o coração esperançoso, foi estudar na capital gaúcha, mais precisamente na pensão da D. Eufrasina, uma mulher trabalhadora e solidária, que sempre procurou ajudar seus hóspedes.
A história ocorre em volta da menina, seus anseios, suas curiosidades, suas descobertas e afins. Uma menina que vai descobrindo o caráter das pessoas e como elas são na sociedade naquela época, por volta de 1932. Levando em conta os acontecimentos do mundo, Erico deixa um pouco evidente os conflitos étnicos e religiosos, além dos econômicos.
Um personagem que não deixarei de citar é Seu Amaro, um homem amargurado, triste, solitário e que procura sempre a solidão juntamente com seu piano. Por todo o livro, ele é distante de todos na pensão, apesar de passar um agradecimento e um afeto por todos, especialmente a menina. Há um trecho, de que gosto muito, é da declaração de Seu Amaro para Clarissa, após ela ir agradece-lo pelo presente dos seus quatorze anos. O trecho dizia "Tu nunca poderias compreender. Nem tu nem ninguém sabe quanta ternura há em mim. Eu hei de ser sempre para vocês o Seu Amaro melancólico e taciturno, o Seu Amaro que trabalha num banco e faz música nas horas vagas, o Seu Amaro que vai ler os seus livros à sombra dos plátanos, o Seu Amaro que não sabe fazer um gesto de amizade nem de acolhimento. Vocês nunca compreenderão. E tu, menina, não podes compreender também a alegria íntima que me dás. Porque és poesia, és música, és... Nem sei o que és... Tudo isto se pode sentir, tudo isto se pode pensar. Mas nada disto se pode dizer. Seria piegas, seria idiota, como seria idiota também em dizer que eu te amo. Tenho mais do dobro da tua idade. E algumas rugas no rosto. Pirolito não pode apanhar o raio de sol. O raio de sol é de um outro mundo. Clarissa, se eu pudesse falar, se tu pudesses entender... Eu te diria que nunca desejasses que o tempo passasse. Eu te pediria que fizesses durar mais e mais este momento milagroso. A vida é má, menina, a vida envenena. Amanhã serás gorducha e prática como titia. Amanhã terás filhos, te transformarás numa matrona respeitável. Onde estará a menina em flor que corria no pátio atrás das borboletas? Mas tu tens curiosidade de conhecer a vida... É natural. Talvez nem compreendas a significação deste momento. Quanta coisa eu teria para dizer se eu pudesse falar, se pudesses entender..."
Percebeu como Seu Amaro se abre com Clarissa? Como ele se sente o tempo todo? E o melhor é que ela o vê como inteiro, como verdadeiro, ela vê sua verdadeira essência e o gosta, por isso.
Me identifico muito com Clarissa, essa vontade de conhecer o mundo, de participar das coisas com pessoas que gosto, de ser livre, provar o gosto da liberdade... E sempre Clarissa, em seus devaneios pensa nisso. Em como a vida se tornaria quando ela completasse seus quatorze anos ''eis de ser moça e poderei usar salto alto'' uma inocência fora do comum.
"Uma vez, há muitos, muitos anos, um menino olhou o mundo com olhos interrogadores. Tudo era mistério em torno dele. Era numa casa grande. O arvoredo que a cercava amanhecia sempre cheio de cantos de pássaros. O mundo não terminava ali no fim daquela rua quieta, que tinha um cego que tocava concertina, um cachorro sem dono que se refestelava ao sol, um português que pelas tardinhas se sentava à frente de sua casa e desejava boa tarde a toda a gente. Não. O mundo ia além. Além do horizonte havia mais terras, e campos, e montanhas, e cidades, e rios e mares sem fim. Dava em nós vontade de correr mundo, andar nos trens que atravessavam as terras, nos vapores que cortam os mares. Nos olhos do menino havia uma saudade impossível, a saudade de uma terra nunca vista."Essa foi uma resenha postada em um antigo blog meu, no ano de 2013. Mas achei válido postá-la aqui, pois eu amei demais ler a obra e indico para todos, principalmente para quem quer conhecer mais de literatura brasileira!(VERISSIMO, Erico. Clarissa; páginas 34-5)